O meu diário: Clara e Xavier - Dia 2
O dia 2 não trouxe boas novas para o Xavier. Na altura foi o fim do mundo para nós. Longe estaríamos de saber que estávamos no início de uma batalha que durou 29 dias. Deparamos-nos com o primeiro problema, sem saber como geri-lo. As primeiras lágrimas caíam e eu não sabia o que fazer. A natureza prepara-nos para a maternidade de forma diferente. O que vamos ouvindo e lendo durante o período que estamos grávidas ali não serviu de nada. Aprendemos de raiz a ser outro tipo de mães. Especialmente neste dia eu tive de aprender a esperar e, a acreditar e a confiar. Nele, na equipa, em mim e no meu coração. Mais uma vez a equipa de enfermagem e a equipa médica foram cruciais. Hoje olho para trás e sei reconhecer como é mau para eles não darem as notícias que os pais querem ouvir. Sabia que o diagnótico era de um pneumomediastino e pneumotórax, que me foi explicado como bolhas que estavam no pulmão, que ou eram reabsorvidas ou teriam de "picar". Ele sentia muita dor, e por isso esteve sedado. Googlei sem me cansar. Escrevi nos grupos de apoio a mães e recebi um apoio incondicional.
Neste dia eu ainda estava internada, uns pisos acima deles. A minha energia continuava com eles, ansiosa por estar de novo perto. Prometi ao Rui que iria ficar no quarto a descansar, enquanto ele voltava para casa sozinho. Mais uma coisa para gerir.
E vocês? Como geriam todas as notícias que recebiam? Como geriam a distância durante o vosso período de internamento?
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Xavier
Hoje, dia 11
de julho, a minha mamã chegou e eu estava muito chorão. Os meus pulmões ficaram
fraquinhos e como choro muito os médicos tiveram de me ligar ao ventilador. A
mamã e o papá familiarizaram-se com os palavrões de pneumotórax e
pneumomediastino, seja lá o que isso for olha: santinho! O monstro ventilador é
grande, e ajuda-me a respirar. Aprenderam também o que são sinais de esforço respiratório,
como a tiragem. Agora são papás muito atentos e sabem ver quando algo não está
bem. Montaram o estaminé ao lado da minha casota, porque sabem que os sinto
ali, mesmo que não possa demonstrar. A Clarinha que me desculpe, mas agora
tenho os papás só pra mim!
Perdi umas
gramas mas aposto que vou ser um matulão.
A mãe e o pai
saíram de ca muito preocupados mas eu sou forte. Vão pôr-me mais calminho e eu amanhã estou
melhor. Quero muito acompanhar a mana Clarinha, não fosse eu, como diz o pai, o
leão.
À noite o
Dr., disse que estava mais estável e que o pulmão já se estava a portar melhor.
Seja como
for, dos manos só podem esperar boas notícias.
Clara
O dia 2, 11
de julho, está a começar bem para mim. Vão dar-me leitinho para ver se gosto e
se me dou bem com ele na minha barriguinha, 1ml (que barrigada!). Os médicos e
enfermeiras dizem que estou a evoluir muito bem. Até já me tiraram uma máscara
chata do nariz. Os meus papás têm mexido muito em mim e eu adoro. Muitos
miminhos tal como preciso. A boa nova é que agora tenho umas luzes azuis e uns
óculos de sol nos olhos. Deve ser para eu me bronzear, não fosse eu a Clarinha.
Para além
disso, os meus pais apanharam-me em um momento muito acordada e sentaram-me. Eu
cá refilei, então querem que esteja sentada para quê? Abri muito os olhinhos,
meti-me com gracinhas e fiquei muito contente de os ver ao pé de mim.
Estou a ser forte,
pelo mano e pelos pais.
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